Título Original: "Today I'm Alice"
Páginas: 318
Editor: ASA
ISBN: 9789892307183
Sinopse
Alice parecia ter tudo para ser feliz: vivia com os pais e o irmão numa casa luxuosa, frequentava as melhores escolas… Porém, sempre se sentiu diferente das outras crianças. Sofria de perdas de memória, tinha pesadelos violentíssimos e as vozes que ouvia na sua cabeça pediam-lhe para se matar. Culpou-se em silêncio durante anos até procurar um terapeuta, que a ajudou a compreender o que a atormentava: múltiplas personalidades. Quando elas se revelaram, Alice percebeu por fim a dimensão da sua agonia. Cada uma das personalidades tinha as suas próprias e terríveis memórias. Ela podia finalmente ter uma visão global da sua infância. Mas o que descobriu quase a matou. Alice fora abusada pelo próprio pai desde os seis meses de idade. Ao longo da sua infância, adolescência e juventude, ele violara-a centenas de vezes, tendo até permitido que outras pessoas o fizessem. "O meu pai infligiu-me todas as perversões possíveis", conta-nos. Na adolescência, sofria de anorexia e de perturbação obsessivo-compulsiva, perturbações que eram, no fundo, silenciosos pedidos de ajuda que ela descreve corajosamente em O Inferno de Alice. Perceber e sobreviver ao passado foi apenas o início de uma luta que Alice trava até hoje. Esta é a sua história.
Opinião
Começo esta review por dar um aviso de relevante
importância. O livro não é para pessoas cujas susceptibilidades sejam
feridas com facilidade.
Esta é uma história verídica de uma batalha constante com a
própria vida, de luta, desespero, confusão.., de sobrevivência. A coragem de
Alice (não é o nome real da autora) para enfrentar tudo o que de errado lhe foi
feito é louvável, assim como a tentativa de ultrapassar e viver com as memórias
de uma infância perdida, fragmentada. As suas perturbações mal diagnosticadas
várias vezes ao longo dos anos até, finalmente, aos 24 anos ter sido
diagnosticada com Distúrbio de Personalidade Múltipla, a acrescentar à
perturbação obsessivo-compulsiva. Em
adolescente sofria de anorexia e começou a ficar viciada nos comprimidos, no
seu “gin” diário e nas corridas exaustivas pela madrugada.
Das mais de 15 personalidades detetadas ao longo dos anos, a
autora descreve-nos especificamente o aparecimento constante de 7/8, comentando
que estas foram as que mais a marcaram, as “crianças” como lhes chamava. Para
além das personalidades, que se foram desenvolvendo ao longo do tempo e
descobertas pela própria muito depois de terem começado a desenvolver-se, desde
nova que ouve vozes sendo a principal denominada “Professor” e as outras os
seus bajuladores, que a incentivavam a matar-se, rebaixando-a constantemente.
Para além da sua luta interior também lidou com a
toxicodependência durante alguns anos até, finalmente, ter decidido manter-se
limpa e não deixar a sua vida escapar entre os dedos com o tempo perdido. Das 2
vezes que tentou que o pai fosse preso, negaram-lhe a justiça pois, apesar de
ser fiável e de saberem o que tinha passado, já tinha passado demasiado tempo
para ter provas concretas. Acabando por conseguir uma compensação pelos danos
causados e pela vida que poderia ter tido, nomeadamente o doutoramento por
acabar.
Apesar da vida turbulenta, encontrava paz nas suas viagens
ao Médio Oriente; e conseguiu, contra todas as adversidades, fazer alguns
amigos, apesar da sua dificuldade em os manter devido às suas perturbações,
ocasionais alucinações persecutórias (acreditava que a queriam matar) e todo o
contexto que demorou bastante a finalmente admitir a si mesma e ainda mais a
terceiros.
Inspirante, admirável e impressionante. Um relato de
arrepiar e pela qual verti diversas lágrimas. Tocou-me profundamente pois é uma
visão do problema vivido, que nos mostra uma perspetiva diferente, pessoal, da
vida e das memórias perturbantes de uma pessoa que sofreu todos os males e
perversões pela parte de alguém em quem deveria poder confiar, o próprio pai,
ainda antes de ter capacidade para compreender o que se estava a passar e
porquê.
Espero sinceramente que este livro abra os olhos dos
leitores como abriu os meus e mais uma vez sublinho que alguém que se
impressione com facilidade com assuntos tão delicados como os maus tratos
infantis, mais precisamente o abuso sexual, não o leia de ânimo leve, pois é,
sem exageros, um livro pesado, muito gráfico e descritivo, sem rodeios nem
meias palavras. Há tanto para dizer sobre este livro, mas não quero estragar a
história a ninguém, por isso sem mais delongas me despeço e vos desejo...
Boas leituras!
Mais um dramático para quando tiver virada para esses "lados"....
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